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Como a microbiota da pele pode ajudar a tratar desordens cutâneas

Cleber Barros
Escrito por Cleber Barros em 28 de agosto de 2018
10 min de leitura
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Como a tendência da ‘beleza bacteriana’ pode ajudar a reduzir os danos e regular a microbiota da pele

A pele é considerada a primeira barreira imunológica do organismo humano. Apesar de ainda existir uma crença muito forte de que o estrato córneo (a camada mais externa da pele) seja composto apenas por células mortas, diversos estudos já comprovaram que, na verdade, essa região é biologicamente muito ativa, e de extrema importância não só para a saúde da pele em si, mas para a saúde do organismo como um todo.

Mais do que uma barreira física contra os possíveis patógenos (no sentido de impedir fisicamente que esses antígenos consigam ‘invadir’ o organismo), o estrato córneo é uma barreira biológica, uma vez que possui uma extensa gama de microrganismos que o habitam – a chamada microbiota da pele.

Essa microbiota é composta por diversos microrganismos, como bactérias, fungos, leveduras e até vírus, os quais habitam simbioticamente a pele e já foram demonstrados serem de extrema importância, atuando tanto como ‘defensores’ da pele, no sentido de impedir que outros microrganismos possivelmente patogênicos a colonizem, quanto como reguladores ativos do sistema imunológico humano.

No artigo de hoje, vou explicar um pouco sobre a importância da microbiota da pele, bem como a crescente tendência da ‘beleza bacteriana’, ou seja, dos cosméticos que buscam fortalecer a microbiota da pele para resolver as desordens cutâneas mais comuns. Acompanhe!

 

 

A microbiota intestinal – a famosa flora intestinal – é bastante conhecida e estudada, e não há dúvidas que esses microrganismos influenciam positivamente na saúde humana – quem nunca tomou Yakult, que atire a primeira pedra! -, mas estudos recentes mostraram que a microbiota da pele é tão importante quanto na regulação do sistema imune humano.

Além disso, foi descoberto que a microbiota da pele é capaz de modular a integridade da barreira da pele, evitando quadros de desordens cutâneas comuns, como o eczema, que têm se mostrado cada vez mais frequentes em decorrência da urbanização e da industrialização. Esse aumento nos quadros de desordens cutâneas são indícios claros de que o ambiente é capaz de influenciar na microbiota da pele, o que demonstra uma necessidade latente por produtos cosméticos que auxiliem a restaurar a flora bacteriana da pele, mesmo em ecossistemas desfavoráveis a esses microrganismos.

Entre as muitas funções da microbiota da pele, podemos citar a inibição de microrganismos patogênicos (tanto pela competição por território e alimento, quanto pela produção de enzimas tóxicas a esses patógenos), indução das células T reguladoras locais (evitando respostas inflamatórias exageradas ou indesejadas), manutenção da integridade da pele e da homeostase dos queratinócitos e inibição local e sistêmica de inflamações.

Assim, como em outros órgãos, o sistema imune inato da pele é uma unidade composta pela integração de elementos humanos e microbianos, e o estabelecimento da microbiota da pele é um fator chave no controle homeostático inicial da imunidade da pele.

O eczema é geralmente a primeira manifestação de um fenótipo alérgico. Essa manifestação cutânea está claramente relacionada a disfunções na barreira da pele, e possui como fator principal a perda transepidermal de água.

Apesar de contribuições genéticas terem sido notadas em situações de eczemas – incluindo mutações no gene FLG, que normalmente é responsável pela produção da proteína profilagrina, um componente estrutural essencial na barreira epidérmica, essas mutações sozinhas não podem responsáveis pelo aumento expressivo observado nos casos de eczemas e alergias cutâneas.

Foram encontradas diferenças consideráveis na microbiota da pele de indivíduos com doenças alérgicas, mas ainda não é claro se esse é um fator secundário ou se a disbiose – ou seja, um desbalanço na microbiota da pele – também possui um papel na patogênese e na propagação da doença. Estudos recentes indicam que a microbiota da pele é resultado tanto de fatores genéticos quanto ambientais.

Muitos fatores podem afetar a composição da microbiota da pele. Foi demonstrado que o tipo de ambiente no qual o indivíduo está inserido pode alterar positiva ou negativamente a microbiota da pele, sendo que quanto maior a biodiversidade do local, mais saudável e diversa é a microbiota do indivíduo – portanto, pessoas que vivem em ambientes mais próximos à natureza possuem o microbioma mais diverso do que pessoas que vivem em grandes centros urbanos. Contudo, o fator ambiental não é o único que regula esses microrganismos. Crianças que nascidas por parto natural tendem a ter a microbiota mais diversa do que crianças que nasceram por cesarianas; pessoas que possuem animais de estimação também têm a microbiota mais diversa do que pessoas que não os possuem.

Hábitos de higiene também podem regular a microbiota da pele dos indivíduos. A lavagem da pele com surfactantes e agentes de limpeza pode causar a remoção dos microrganismos, enquanto que alguns cosméticos – os chamados pré e probióticos – podem ajudar a restabelecer esse microbioma cutâneo.

A própria topografia da pele pode modular o tipo de colonização da microbiota da pele. Alguns estudos demonstraram que a diferença entre locais hidratados e ressecados na pele de um mesmo indivíduo geram habitats tão diferentes quanto florestas tropicais e desertos. Além disso, fatores como exposição solar, ingestão de água, umidade relativa do ar, temperatura do ambiente, etc., podem regular essa colonização.

Algumas linhas de pesquisas sugeriram que a aplicação tópica de microrganismos específicos, lisados de micróbios e/ou substratos prebióticos podem promover o crescimento da microbiota da pele. Essas pesquisas demonstraram que a aplicação tópica de probióticos pode melhorar a função da barreira cutânea e das respostas imunes no local da aplicação.

Existem também estudos que indicam que emolientes suplementados com bactérias não patogênicas podem regular o microbioma da pele, restaurar a barreira cutânea e reduzir os sintomas de eczemas.

Além disso, os prebióticos (substâncias que melhoram as condições de vida da microbiota, como fibras – alimento desses microrganismos – por exemplo), geram como consequência indireta a inibição de bactérias patogênicas, além de melhorar a aparência de peles acneicas.

Portanto, podemos ver que os cosméticos pre- e probióticos possuem inúmeros benefícios na regulação da microbiota da pele, podendo tratar até mesmo desordens mais severas, como a rosácea, por exemplo.

A aplicação tópica de microrganismos ou prebióticos, sozinha, não é capaz de manter uma microbiota da pele completamente saudável. Como foi dito anteriormente, fatores como estilo de vida, alimentação e proteção contra a exposição solar excessiva são cruciais para a manutenção de uma pele saudável. Contudo, a aplicação de cosméticos que seguem a tendência da ‘beleza bacteriana’ pode ajudar a controlar a microbiota da pele e a regular desordens cutâneas.

 

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Referências:
Prescott et al. [The skin microbiome: impact of modern environments on skin ecology, barrier integrity, and systemic immune programming] World Allergy  Organization Journal (2017) 10:29 DOI 10.1186/s40413-017-0160-5.

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