Saiba quais fatores são importantes para criar cosméticos veganos e aproveite as oportunidades desse segmento que só cresce.
Introdução
Você já pensou em criar cosméticos veganos e aproveitar as oportunidades desse mercado? Com consumidores cada vez mais preocupados com o impacto que suas compras causam, os cosméticos veganos representam um mercado em constante crescimento. Pensando nisso, escrevi esse artigo para te ajudar a criar cosméticos que atendam essa demanda.
Nesse artigo você vai ver:
- O que são cosméticos veganos?;
- Entendendo esse consumidor;
- Principais certificadoras de cosméticos veganos;
- Desenvolvendo cosméticos veganos.
O que são cosméticos veganos?
Antes de colocar a “mão na massa” é importante compreender alguns conceitos. Para entender o conceito de cosméticos veganos é essencial compreender o conceito de veganismo.
Segundo a The Vegan Society (uma das maiores sociedades veganas do mundo, criada em 1944 no Reino Unido) o veganismo é uma filosofia e estilo de vida que exclui (na medida do possível e praticável) todas as formas de exploração e crueldade animal para alimentação, roupas e qualquer outro fim, promovendo o desenvolvimento de alternativas que beneficiam os animais, humanos e meio ambiente. Portanto, de acordo com essa definição, pode-se entender que cosméticos veganos são aqueles que não possuem ingredientes de origem animal e não são testados em animais.
Segundo a People for The Ethical Treatment of Animals (PETA) veganos não consomem, vestem, compram ou usam nenhum produto feito de animais, o que inclui:
- Carne animal, ovos, mel e laticínios (como leite, queijo e iogurte);
- Roupas com couro, lã, pele animal e seda;
- Produtos testados em animais ou que contém ingredientes derivados de animais.
Portanto, o conceito de veganismo se aplica a diferentes áreas, como alimentação, vestuário, entretenimento, e é claro, produtos cosméticos.
Não há nenhuma definição oficial para cosméticos veganos, mas esses produtos normalmente são classificados como cosméticos que não possuem ingredientes de origem animal e que também não são testados em animais (ingredientes e produto finalizado).
Vale ressaltar que cosméticos veganos e naturais são coisas distintas. Esses posicionamentos podem ser usados ao mesmo tempo pelas marcas, mas isso não quer dizer que são a mesma coisa. Um produto pode possuir ingredientes totalmente sintéticos e ser classificado como vegano, por exemplo.
A principal estratégia ao criar cosméticos veganos é pesquisar muito bem sobre os ingredientes que serão adicionados na formulação, verificando o material técnico e se certificando com os desenvolvedores/fornecedores do ingrediente que não foram realizados testes em animais.
Já cosméticos cruelty-free são aqueles que não são testados em animais (tanto os ingredientes presentes no produto, quanto o produto finalizado). Apesar desses termos normalmente serem associados, principalmente pelos consumidores, eles não são sinônimos. É comum ver produtos que são veganos e cruelty-free, mas nem todo produto vai, necessariamente, possuir essas duas características.
Dados de mercado e comportamento do consumidor
O tamanho do mercado global de produtos cosméticos veganos foi estimado em 12,9 bilhões de dólares em 2017, e está estimado para alcançar 20,8 bilhões em 2025. Segundo um levantamento da Mintel, os lançamentos veganos cresceram em 175% de julho de 2013 a Junho de 2018. As buscas no Google por “veganismo” aumentaram em 550% nos últimos 5 anos. Números como esses nos mostram que os cosméticos veganos e cruelty-free estão se tornando um destaque na indústria de beleza.
O crescimento dos cosméticos veganos pode ser explicado por um comportamento muito comum do consumidor atual, principalmente os millenials e Geração Z. Os consumidores se preocupam cada vez mais com o impacto ético e ambiental de suas compras. O veganismo possui muita força no setor alimentício, entretanto, a preocupação dos consumidores também está se estendendo para outros setores, como o de moda e beleza. É muito importante entender esse consumidor e escutar suas demandas e insatisfações.
Segundo a Future Market Insights, o veganismo, que é majoritariamente um conceito de nicho, está se tornando cada vez mais popular na indústria cosmética. Por conta da facilidade de acesso à informação, os consumidores modernos estão cada vez mais conscientes. Junto a isso, preocupações com o meio ambiente e esgotamento dos recursos naturais estão causando uma mudança no seu comportamento.
De acordo com um levantamento feito pela Euromonitor International, o claim “vegano” foi o terceiro mais utilizado no e-commerce global em 2019 (informações obtidas com base em 1.500 vendedores mundiais), seguido por “cruelty-free” em quarto lugar. Isso pode ser explicado pela forte presença das indie brands (marcas independentes e de nicho), assim como uma busca por consumo mais significativo. Além disso, essa tendência não é passageira, uma vez que é possível observar marcas tradicionais pouco a pouco retirando ingredientes derivados de animais de seus produtos.
Uma pesquisa feita pela Grand View Research mostrou que o e-commerce é um dos principais canais de venda para cosméticos veganos. A facilidade de compra e maior variedade de promoções são uns dos fatores que explicam o crescimento do e-commerce.
Quando se fala em criar cosméticos veganos, a restrição de ingredientes é bem menor quando comparada com a restrição que ocorre nos cosméticos naturais, mas é importante entender que esse consumidor, normalmente, além de ser adepto do veganismo, também procura por produtos que sejam “naturais”. Apesar de não haver nenhuma definição definitiva para “cosméticos naturais”, esse consumidor, no geral, busca produtos que não contenham ingredientes como silicones, tensoativos sulfatados, liberadores de formaldeído e esperam que o produto contenha ingredientes de origem vegetal.
Principais certificadoras de cosméticos veganos e cruelty-free
Certificação
Os órgãos reguladores de cosméticos (como a ANVISA no Brasil) não possuem normas e diretrizes que definam o que são cosméticos “veganos” e “cruelty-free”. Logo, esses termos não possuem uma definição oficial ou legal. Uma alternativa para se guiar quanto ao que é, normalmente, entendido sobre esses termos, é pelo conhecimento do que dizem algumas certificadoras de produtos. As principais certificadoras para produtos veganos e cruelty-free são: Vegan Trademark, Choose Cruelty-Free, Leaping Bunny Program, Beauty Without Bunnies, Vegan Certified e Selo Vegano Brasileiro.
Muitas empresas de produtos cosméticos entendem que as certificações fornecidas por esses grupos podem ser uma maneira de transmitir confiança e credibilidade ao consumidor. É como se a presença no produto do selo do grupo certificador, realmente pudesse comprovar que o produto cumpriu os requisitos importantes para ser classificado como vegano ou cruelty-free.
Certificação vegana
- Vegan Trademark;
- Animal Test-free and vegan;
- Selo Vegano;
- Certified Vegan.
Certificação Cruelty-Free
- Animal Test-Free;
- Leaping Bunny;
- Choose Cruelty-free.
Vegan Trademark
O programa de certificação da The Vegan Society certifica produtos que se enquadram no padrão de veganismo. Portanto, o produto não deve conter ingredientes derivados de animais ou subprodutos de animais. O produto, assim como seus ingredientes, não pode ser testado em animais. O desenvolvimento de Organismos Geneticamente Modificados (GMOs) não deve conter genes de animais e substâncias derivadas de animais.
Global Beauty Without Bunnies
Beauty Without Bunnies é o programa de certificação da People For Ethical Treatment of Animals (PETA). Possui dois tipos de certificação: um para produtos cruelty-free e outro para produtos cruelty-free e veganos. Para ser considerado cruelty-free pelo programa, a marca precisa afirmar que não realiza, em nenhuma parte do mundo, testes em animais nos seus produtos finalizados e ingredientes, e que não irá realizar no futuro. Para ser considerado cruelty-free e vegano, além de não realizar testes em animais, os produtos da marca não podem conter ingredientes de origem animal.
Selo Vegano Brasileiro (SVB)
Programa de certificação gerenciado pela Sociedade Vegetariana Brasileira. Para que um produto seja certificado é necessário atender os seguintes critérios:
- o produto não contém ingredientes de origem animal;
- a empresa não testa o produto finalizado em animais;
- fabricantes e fornecedores não testam os ingredientes em animais.
É importante destacar que esse programa certifica produtos, não marcas. Há um período de carência de no mínimo 5 anos de testes em animais para os produtos em processo de certificação. Ou seja, ao submeter um produto para certificação, o mesmo não pode ter sido testado em animais nos últimos 5 anos (no mínimo).
Leaping Bunny Program
A Leaping Bunny Program é um programa de certificação para cosméticos cruelty-free. Como principal critério para certificação, o produto finalizado e seus ingredientes não podem ser testados em animais. É importante ressaltar que nem todos os produtos certificados por esse programa são, necessariamente, veganos. O processo de certificação não avalia a composição do produto, mas sim as informações sobre testes em animais.]
Certified Vegan
Programa de certificação criado pela vegan.org. Certifica produtos que não possuem ingredientes de origem animal e não realizam testes em animais (ingredientes e produto finalizado). Também não deve conter organismos modificados geneticamente derivados de animais.
Choose Cruelty-Free
A Choose Cruelty-Free é uma organização australiana. Para a marca ser certificada é necessário obedecer a “regra dos cinco anos ou mais”: a marca não pode ter realizado testes em animais nos 5 anos que antecedem a data de aplicação para certificação. Além disso, os produtos não podem ser comercializados no varejo Chinês. Alguns ingredientes não são permitidos, como:
- Derivados de um animal que foi morto especificamente para extração do ingrediente;
- Extraído à força de um animal, causando dor e desconforto para o mesmo;
- Subprodutos de matadouros (ou seja, o animal não foi morto especificamente para obtenção do ingrediente);
- Derivado de uma forma que causa a morte do animal ou inseto, direta ou indiretamente;
- Derivado de peixes e crustáceos.
Entretanto, mel, cera de abelha, própolis, lanolina e produtos do leite são aceitos.
Desenvolvendo cosméticos veganos
A partir da compreensão do conceito de veganismo, criar cosméticos veganos pode se tornar menos abstrato. Atualmente, por conta das novas tecnologias, pesquisas e inovação, os fabricantes de matérias primas possuem diversas opções sintéticas ou de origem vegetal para ingredientes que originalmente são de origem animal, como o esqualano, por exemplo. Entretanto, é importante verificar se o ingrediente possui alguma indicação vegana. Caso não possua, sempre verifique com o fornecedor/fabricante da matéria prima.
Além disso, esses ingredientes não devem ser testados em animais. Portanto, caso o produto seja testado em algum laboratório, certifique-se de que os métodos utilizados nos testes não envolvam animais.
Alternativas veganas
Ingredientes não veganos | Substituição |
---|---|
Cera de Abelha | Ceras vegetais (cera de candelila e de carnaúba, por exemplo), cera de abelha sintética. |
Lanolina | Óleos, ceras, manteigas e emulsionantes vegetais/sintéticos. |
Ácido Hialurônico | Alternativas sintéticas. |
Esqualano/Esqualeno | Pode ser derivado de vegetais. |
Triglicerídeos do Ácido Cáprico Caprílico | Pode ser derivado de origens vegetais, como do óleo de coco. |
Queratina | Proteínas vegetais hidrolisadas, como a proteína hidrolisada do trigo, blends de aminoácidos. |
Alantoína | Alternativas de origem vegetal ou sintética. |
Glicerina | Alternativa de origem vegetal. |
Pantenol | Alternativas sintéticas. |
Uréia | Alternativas sintéticas. |
Ácido Lático | Alternativas sintéticas. |
Ácido esteárico | Alternativas vegetais. |
Lecitina | Lecitina da soja, alternativas sintéticas. |
Fonte: Lista de ingredientes derivados de animais da PETA.
Cosméticos veganos x naturais x orgânicos
Esses termos podem ser confundidos, entretanto, não são a mesma coisa. Cosméticos orgânicos e naturais possuem definições diferentes, assim como certificadoras específicas que certificam esses produtos. Um produto natural, por exemplo, pode conter cera de abelha. Logo, nem todos os produtos naturais e orgânicos são necessariamente veganos e cruelty-free.
Análise de benchmarking
Conhecer as marcas que se posicionam como veganas e cruelty-free pode ser muito útil para te ajudar a criar cosméticos veganos. Dessa maneira, é possível entender como as marcas de mercado se posicionam e se comunicam com seus consumidores, quais ingredientes costumam utilizar em suas formulações e como exploram o claim vegano.
Exemplo de mercado
Existem algumas marcas que focam o seu posicionamento no uso do claim vegano e/ou cruelty-free. Observar as estratégias de comunicação dessas marcas, storytelling, e a composição de seus produtos pode ser útil durante o desenvolvimento de cosméticos veganos/cruelty-free. É importante ressaltar que nem todos os produtos/marcas com esse claim são, necessariamente, certificados, uma vez que a certificação não é obrigatória. Exemplos de marcas:
- Lush Fresh Handmade Cosmetics;
- KVD Vegan Beauty;
- Logona Naturkosmetik;
- Sante Naturkosmetik;
- The Body ShopⓇ.
Portanto, para criar cosméticos veganos é necessário:
- Entender o conceito de veganismo;
- Entender esse consumidor;
- Conhecer as principais certificadoras;
- Saber quais ingredientes podem ser derivados de animais;
- Conhecer as alternativas veganas de ingredientes cosméticos;
- Certificar-se de que os ingredientes utilizados na formulação não foram testados em animais;
- Não realizar testes em animais nos produtos finalizados.
Conclusão
O mercado de cosméticos veganos está em constante crescimento, e seu público alvo é um consumidor preocupado com questões éticas e o impacto que suas compras causam no mundo. Cosméticos veganos são aqueles que não possuem ingredientes derivados de animais e também não são testados em animais (tanto os ingredientes, quanto o produto finalizado).
Para criar cosméticos veganos é importante entender o conceito do veganismo, entender quem são os consumidores desse tipo de produto, conhecer as diretrizes das principais certificadoras (como a Vegan Trademark e Selo Vegano), conhecer quais ingredientes podem ser de origem animal (como a cera de abelha, lanolina e esqualano), suas alternativas veganas e, por fim, não realizar testes em animais em nenhuma etapa do desenvolvimento do produto.
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Referências
Accreditation Information. Choose Cruelty-Free.
Certified Vegan Standards. Certified Vegan.
CULLINEY, Kacey. Ethical attributes: ‘Vegan‘ rising fast in colour cosmetics, says Euromonitor. Cosmetics Design Europe, 2020.
DE ÁVILA, Renato Ivan; VALADARES, Marize Campos. Brazil moves toward the replacement of animal experimentation. Alternatives to Laboratory Animals, v. 47, n. 2, p. 71-81, 2019.
How can beauty companies make the most of veganism’s rising popularity. Mintel Blog, 2018.
Leaping Bunny Standard. Leaping Bunny Program.
MCDOUGALL, Andrew. How can beauty companies make the most of veganism’s rising popularity? Mintel Blog, 2018.
O momento decisivo dos veganos: de super nicho à beleza convencional. Cosmetic Innovation, 2020.
PETA’s ‘Global Beauty Without Bunnies Program’. PETA Website.
Sobre o Selo Vegano. Selo Vegano Brasileiro.
Vegan Cosmetics Market, 2020 Analysis and Review. Future Market Insights.
Vegan Cosmetics Market Size, Share & Trends Analysis. Grand View Research, 2018.
Vegan Trademark Standards. The Vegan Society.
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