Aprenda sobre a importância do certificado de análise de ingredientes e produtos acabados e conheça a definição dos principais termos e testes empregados nesse material.
Tanto os ingredientes cosméticos quanto os produtos acabados precisam possuir certificado de análise para que possam ser comercializados de forma segura e correta.
O certificado de análise é um documento que comprova que diversos testes foram realizados para assegurar que o ingrediente ou produto em questão está de acordo com parâmetros pré-estabelecidos que garantem que as suas propriedades e características esperadas estão preservadas (ou seja, que não houve nenhum tipo de degradação ou contaminação).[1]
Logo, ao adquirir uma nova matéria-prima é importante que você peça ao fornecedor o certificado de análise do produto.
Ao analisar esse tipo de documento, é comum se deparar com diversos termos e expressões utilizados que não são facilmente entendidos, principalmente se o profissional estiver começando com esse tipo de análise. Exemplos são: teor de cinzas, valor de peróxidos, índice de iodo entre outros.
De fato, os significados de muitos desses termos e expressões não são nada óbvios e demandam uma breve orientação para que sejam perfeitamente compreendidos. Por isso, no artigo de hoje, vou “traduzir” diversos termos e expressões empregados nos certificados de análise, explicando o que cada um significa.
Os principais são:
Teor de cinzas (ash content)
O teor de cinzas indica a quantidade de minerais inorgânicos presente nas amostras. Portanto, quanto maior o percentual do teor de cinzas, maior a quantidade de componentes inorgânicos da amostra.[2]
Para determinar o teor de cinzas, a amostra é carbonizada e as cinzas restantes são expressas em porcentagem do peso inicial da amostra.
Isso quer dizer que as chamadas “cinzas” são o resíduo inorgânico que resta após a queima de uma matéria orgânica.[3]
Muitos minerais são convertidos a óxidos, sulfatos, fosfatos, cloretos ou silicatos, portanto, saber o teor de cinzas é importante quando se trabalha com ingredientes que podem ser sensíveis a sais de metais.[1]
Índice de iodo (iodine value)
O índice de iodo é uma característica presente em óleos e gorduras.
Tal índice é relativo à massa de iodo, em gramas, que pode ser absorvida por 100g de uma determinada substância.
Este parâmetro é geralmente utilizado para expressar o grau de insaturação dos óleos (ou seja, o número de ligações duplas carbono-carbono), o que reflete diretamente na sua susceptibilidade à oxidação.[4]
Quanto maior o grau de insaturação, mais iodo é absorvido. Portanto, quanto maior o índice de iodo, maior o grau de insaturação.[4]
Com isso, pode-se concluir que, quanto maior o índice de iodo, mais susceptível à oxidação são os óleos e gorduras, e, portanto, mais cuidados você deve ter com a fase oleosa da formulação.[1]
Índice de peróxido (peroxide value)
O índice de peróxido é um indicador da extensão da oxidação de lipídios, gorduras e óleos. Ou seja, é uma forma comum de detectar o processo de rancificação de óleos e gorduras. Tal parâmetro é expresso em miliequivalentes de peróxido de oxigênio por kg de gordura (mEq/kg|).
A auto-oxidação é a reação espontânea do oxigênio atmosférico com lipídios, o que leva à deterioração oxidativa. A presença do peróxido de oxigênio em gorduras animais e vegetais é um indicativo de que, nestes materiais, ocorreu a auto-oxidação. Ácidos graxos insaturados, seja como ácidos graxos livres, trigliceróis, ou fosfolipídios, são suscetíveis a tais reações.
Fatores como temperatura, luz, enzimas e íons metálicos podem gerar instabilidade nas insaturações dos ácidos graxos, induzindo assim, a formação de radicais livres. Quando em contato com oxigênio, os radicais livres formam compostos chamados hidroperóxidos. Os hidroperóxidos dão origem a dois outros radicais livres, que também entrarão em contato com outras moléculas e formarão mais radicais livres. Ou seja, quando iniciado, este é um processo de propagação crescente.
Ao se romperem, as novas moléculas formadas (que contêm o radical livre) dão origem a produtos de peso molecular mais baixo (como aldeídos, cetonas, álcoois e ésteres). Por serem voláteis, esses componentes são os responsáveis pelos aromas e sabores desagradáveis. Normalmente, a formação de odores indica que o processo de oxidação está em sua fase final. Dessa forma, um valor baixo do índice de peróxido deve coincidir com altas concentrações de produtos secundários (aldeídos, cetonas, álcoois e ésteres). Isso acontece porque o índice de peróxido é apenas uma medida da extensão da oxidação durante o processo de oxidação, pois quando o processo está próximo da sua finalização, tal valor começa a diminuir. Portanto, o índice de peróxidos deve ser sempre levado em consideração em conjunto com outras propriedades, tais como odor e estabilidade oxidativa.[5] [6]
Índice de hidroxilas (hydroxyl value)
O índice de hidroxila é expresso em miligramas de hidróxido de potássio (mg KOH/g), e diz respeito à quantidade de hidróxido de potássio em relação a um grama de amostra do material analisado. Em resumo, este parâmetro mede o número de grupos hidroxilas livres na amostra.[6]
Este valor pode ser utilizado para auxiliar na caracterização de um determinado material, mas é particularmente importante para a análise de derivados, como álcoois graxos etoxilados e poliglicóis.
Tal parâmetro promove uma indicação do grau de etoxilação ou polimerização e se o glicol foi ou não esterificado. O valor de hidroxilas pode também ser utilizado como um guia para a quantidade de esterificação presente.[6]
O índice de hidroxila é expresso em miligramas de hidróxido de potássio (mg KOH/g), e diz respeito à quantidade de hidróxido de potássio em relação a um grama de amostra do material analisado. Em resumo, este parâmetro mede o número de grupos hidroxilas livres na amostra.
Índice de ácidos (acid value)
O índice de ácidos é definido como o número, em miligramas, de hidróxido de potássio necessário para neutralizar 1g de amostra. Portanto, este valor indica a quantidade de ácidos graxos total da amostra.[6]
Tal parâmetro pode variar em um intervalo considerável, dependendo da qualidade do material analisado. Atualmente, tem se prestado mais atenção ao tipo de ácidos graxos presentes na amostra, e existem diferentes métodos para a avaliação de sua identificação. Isso é importante pois a presença de ácidos graxos de cadeia curta geralmente indica que ocorreu a oxidação da amostra.[6]
Penetração (penetration)
Os testes de penetração consistem em pressionar uma agulha em uma amostra sólida ou semi-sólida, com peso determinado. A distância que a agulha alcança ao atravessar o material indica a dureza do mesmo.[6]
Essas propriedades são importantes quando se utiliza ceras para estabilizar emulsões água em óleo, ou para controlar propriedades de dureza de batons.[1]
Todos os parâmetros abordados pelos certificados de análise são de extrema importância para a caracterização de parâmetros acerca da qualidade e propriedades físicas e químicas das matérias-primas utilizadas em cosméticos.
Espero que após a leitura deste artigo, os termos e expressões empregados nestes certificados tenham sido esclarecidos, e que isso possa te ajudar na sua vida profissional.
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Referências
[1] Dobos K. [COA Savvy] Chemists Corner.
[2] Omenka, S. S., Adeyi, A. A. [Heavy metal content of selected personal care products (PCPs) available in Ibadan, Nigeria and their toxic effects] Toxicology Reports Volume 3, 2016, Pages 628-635.
[3] Gois G. C., Lima C. A. B., Silva L. T., Rodrigues A. E. [COMPOSIÇÃO DO MEL DE APIS MELLIFERA: REQUISITOS DE QUALIDADE] Acta Veterinaria Brasilica, v.7, n.2, p.137-147, 2013
[4] Odoom, W., Edusei, V. O. [Evaluation of Saponification value, Iodine value and Insoluble impurities in Coconut Oils from Jomoro District in the Western Region of Ghana] Asian Journal of Agriculture and Food Sciences (ISSN: 2321 – 1571) Volume 03 – Issue 05, October 2015.
[5] Doğru B. [Determination of Peroxide Values of Some Fixed Oils by Using the mFOX Method] Spectroscopy Letters, 45:359–363, 2012.
[6] Knowlton J.L., Pearce S.E.M. [Handbook of Cosmetic Science & Technology]
[7] Sun J. Z., Erickson M. C., Parr J. W. [Refractive Index Matching: Principles and Cosmetic Applications] Cosmetics and Toiletries, June 24, 2009.
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