Você conhece os benefícios do resveratrol? Entenda como ele colabora para a saúde, beleza e juventude.
Em minha última ida ao Chile há alguns meses, passei pelo Vale do Maipo, que concentra muitos vinhedos importantes para o país. Conheci o centro turístico da principal atração enológica de Santiago, localizado em Pirque. Distante a uma hora do centro da cidade, essa região é propícia à produção de vinhos de qualidade internacional.
Depois de degustar vinhos tão saborosos, percebi que não poderia deixar de abordar os benefícios que estão por trás dessa ótima bebida para as emoções e para o corpo. No Brasil, já não era um mistério a boa fama do vinho para um acréscimo saudável de sorrisos e, lá no Chile, havia quem dizia sempre que uma taça diária faria muito bem a saúde. Mas o que os estudos científicos afirmam sobre isso hoje?
Leia, a seguir, meu artigo que detalha os benefícios de um forte aliado a saúde extraído dos vinhedos.
Resveratrol: polifenóis do vinho
Os polifenóis tem atraído muito a atenção de pesquisadores ao longo dos últimos anos, seja em virtude de suas propriedades antioxidantes ou de seus benefícios na proteção e prevenção de várias doenças ligadas ao envelhecimento e ao estresse oxidativo como o câncer, por exemplo, e doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.
Essas moléculas chamadas de polifenóis são formadas nas plantas para atuarem como um mecanismo de defesa. Elas ainda atuam na resposta contra a radiação UV em uma situação de estresse, protegendo o vegetal no processo de fotossíntese e outras agressões externas do ambiente, como ataque de fungos, irradiação, calor, toxinas, e patógenos.¹
Na natureza existem milhares de tipos de polifenóis e, dependendo do número de grupos fenólicos e a forma com que esses grupos estão ligados uns aos outros, podem ser classificados em diversas categorias, tais como ácidos fenólicos, flavonóides, estilbenos.¹
Os compostos fenólicos podem ser encontrados em uma grande variedade de espécies vegetais. Entre as frutas, podemos destacar como uma de suas maiores fontes a uva (Vitis vinifera L.). Os principais tipos encontrados nessa fruta são os flavonóides (antocianinas e flavonóis), os ácidos fenólicos (derivados dos ácido cinâmico e benzoico) e os estilbenos (resveratrol), além de uma grande variedades de taninos.³
O resveratrol é sem dúvida o composto fenólico obtido da uva mais conhecido e comentado, estando presente em mais de outras 70 espécies de plantas. Essa substância é sintetizada sob duas formas isômeras na natureza: trans-resveratrol e cis-resveratrol, sendo o cis-resveratrol a molécula mais estável dentre as duas formas.¹
A substância também pode ser encontrada em produtos alimentícios do dia a dia, como sucos de uva e, principalmente, em vinhos tintos. Em virtude do processo de fermentação, de atividades enzimáticas e da presença de etanol, a concentração de resveratrol no vinho é maior do que no suco de uva.¹ Como consequência de uma grande variedade de uvas utilizada para se preparar a bebida, a concentração de resveratrol em cada tipo de vinho também pode variar muito. Abaixo, veja uma tabela com algumas análises feitas com alguns vinhos nacionais mostrando suas respectivas concentrações de resveratrol.
Concentração de trans-resveratrol em vinhos do Brasil:¹
Amostragem realizada com 36 vinhos tintos. O valor médio do polifenol resveratrol encontrado foi 2,57 mg/L. A concentração encontrada superou valores de vinhos da Califórnia (0,132 – 2,18 mg/L), Japão (0,157 mg/L), Canadá (0,77 mg/L), Grécia (0,873 mg/L) e Portugal (1 mg/L), perdendo somente para os franceses.
Resveratrol e a saúde humana
1. No combate ao envelhecimento
O resveratrol é muito conhecido devido ao seu amplo espectro de benefícios à saúde: antioxidante, cardioprotetor, antiviral e quimiopreventivo de câncer.¹ Além disso, existe uma série de estudos científicos que evidenciam suas propriedades benéficas à manutenção da beleza pele, retardando o seu envelhecimento em virtude de suas propriedades antiaging.⁴
De acordo com pesquisadores, os seres humanos possuem uma infinidade de genes que já nascem programados para envelhecer o corpo e, conforme ocorre esse processo de envelhecimento, muitos problemas surgem. Um exemplo são as chamadas ‘doenças do envelhecimento’, resultantes de falhas do organismo, bem como o surgimento de problemas estéticos: rugas, flacidez e manchas na pele.¹ Segundo as pesquisas, o resveratrol atua por retardar a atividade desses genes, possibilitando a diminuição dos efeitos danosos do processo de envelhecimento no corpo.¹
Os pesquisadores também sugerem que o resveratrol tem a capacidade de atuar sobre as sirtuínas (enzimas cuja função é controlar a ação de vários genes) diminuindo a expressão de genes envolvidos no envelhecimento, o que possibilita uma maior longevidade do organismo.¹ Apesar de em muitos casos a genética ter um peso muito forte quanto à predisposição no desenvolvimento de certas doenças, o contato com substâncias como o resveratrol pode proporcionar um resultado muito satisfatório. Os polifenóis não tem a capacidade de alterar os genes, mas conseguem influenciar a forma e a intensidade com que trabalham, diminuindo o impacto da sua atuação e promovendo como consequência a longevidade do corpo.
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2. Na redução da hiperpigmentação e contra o fotoenvelhecimento
Um estudo recente⁴ mostrou que a aplicação tópica de resveratrol promove a redução da hiperpigmentação estimulada pela radiação UVB por atuar na redução da expressão da enzima tirosinase, uma importante substância atuante no processo de melanogênese (processo de formação da melanina). Com a inibição na formação dessa enzima, inibe-se também a produção da síntese de melanina. Com isso, ocorre a diminuição de sua transferência da melanina para os queratinócitos na epiderme, reduzindo a pigmentação da região.
O estudo⁴ mostra também que a aplicação tópica desse polifenol oferece benefícios à pele contra o fotoenvelhecimento induzido pela radiação UVB.
3. Na proteção contra às desordens cutâneas
Foi evidenciado também que a aplicação tópica do resveratrol protege contra desordens cutâneas ocasionadas por poluentes e fatores ambientais externos.⁵ O caso avaliado no estudo cita que a fumaça resultante da queima de cigarro tem o potencial de ocasionar danos à pele, principalmente à camada córnea ~camada mais externa da pele~, rica em colesterol, ácidos graxos e ceramidas. Essa camada, constituída por mais de 25% de colesterol, pode ter sua composição lipídica modificada por essa exposição à fumaça, sendo que essa mudança afeta a função de barreira protetora da pele e propicia o surgimento de várias desordens cutâneas. A exposição demonstrou um vínculo direto com a queda na expressãoda proteína SR-B1, substância que atua como receptora celular do colesterol, sendo sua presença importante para garantir a organização e disponibilidade desse lipídio na pele. Com os níveis de SR-B1 reduzidos, a pele fica fragilizada.
O estudo⁵ demonstrou que a aplicação tópica do resveratrol promove o aumento nos níveis de proteína SR-B1 na pele em combate à desordem cutânea. Além disso, células tratadas previamente com resveratrol e posteriormente exposta à fumaça de cigarro, também tiveram um resultado positivo com uma perda menos acentuada de SR-B1 quando comparadas a células não tratadas.
4. Importante para elasticidade e firmeza da pele
Dados³ mostram que o resveratrol bloqueia a ação de metaloproteinases, colagenases e elastases, um grupo de enzimas capazes de degradar componentes da matriz extracelular, como o colágeno e a elastina, proteínas importantes para a elasticidade e firmeza da pele. Além disso, seus benefícios se estendem possibilitando melhora na hidratação e na microcirculação da pele. Esses efeitos podem ser conseguidos por via tópica, mas são potencializados por via oral.
É inegável o interesse cada vez maior em relação ao resveratrol e seus benefícios para o corpo. Isso fica evidente tendo em vista o grande número de publicações científicas existentes sobre esse polifenol, sendo que uma rápida busca pelo famoso banco de dados pub med mostra bem a dimensão do interesse que se tem no assunto. Alguns especialistas sugerem que existam muitas dúvidas em relação ao resveratrol não respondidas ainda pela ciência, como por exemplo:
- Qual seria a dose oral segura para a utilização e obtenção dos benefícios?
- A ingestão de grandes quantidades pode trazer riscos à saúde?
- A molécula deve ser ingerida em cápsulas ou bastaria o consumo de suco de uva e vinho para se ter os benefícios demonstrados nos estudos?
- Seu uso em longo prazo pode trazer efeitos negativos?
Os questionamentos citados acima são muito importantes e essa discussão deve ser continuamente estimulada para propiciar o domínio do assunto. A boa notícia é que até o momento sabe-se que o resveratrol é uma molécula com inúmeras propriedades benéficas ao organismo, possibilitando ao corpo um melhor funcionamento, melhor aparência, e, principalmente, maior longevidade.
O conteúdo desse artigo objetiva promover e compartilhar conhecimento com a nossa comunidade técnica. Por essa razão, eu conto com seu apoio para também construir e compartilhar esse conteúdo. Para qualquer orientação procure sempre um profissional habilitado como um dermatologista ou farmacêutico. Adoraria saber a sua opinião sobre esse artigo. Participe, deixe seu comentário abaixo.
Como você foi um leitor aplicado e chegou até aqui com esse artigo, tenho um presente para seus olhos apreciarem: imagens dessa incrível passagem pelo Vale do Maipo, no Chile. Infelizmente, só para os olhos ok? Ainda não é possível degustar vinhos pela internet 😉
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Referências:
¹ Revista da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, ano XXX, nº 133, Março-Abril/2007.
² Schagen SK1, Zampeli VA, Makrantonaki E, Zouboulis CC. [Discovering the link between nutrition and skin aging]. Dermato-endocrinology. 2012 Jul 1;4(3):298-307. doi: 10.4161/derm.22876. PMID: 23467449 [PubMed] PMCID: PMC3583891
³ Niucéa Fatima de Souza Vaccari, Marcilene Camila Heidmann Soccol, Gilberto Massashi Ide [Compostos fenólicos em vinhos e seus efeitos antioxidantes na prevenção de doenças]. Revista de Ciências Agroveterinárias. Lages, v.8, n.1, p. 71-83, 2009
⁴ Lee TH, Seo JO, Baek SH, Kim SY. [Inhibitory effects of resveratrol on melanin synthesis in ultraviolet B-induced pigmentation in Guinea pig skin]. Biomolecules & Therapeutics. 2014 Jan;22(1):35-40. doi: 10.4062/biomolther.2013.081. PMID: 24596619 [PubMed] PMCID: PMC3936427
⁵ Sticozzi C, Belmonte G, Cervellati F, Muresan XM, Pessina F, Lim Y, Forman HJ, Valacchi G. [Resveratrol protects SR-B1 levels in keratinocytes exposed to cigarette smoke]. Free Radic Biol Med. 2014 Apr;69:50-7. doi: 10.1016/j.freeradbiomed.2014.01.007. Epub 2014 Jan 12. PMID: 24423486 [PubMed – in process] PMCID: PMC3967961 [Available on 2015/4/1]
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