desenvolvimento cosmético

Como criar cosméticos hidratantes: entenda a hidratação e use isso para desenvolver produtos que vendam

Cleber Barros
Escrito por Cleber Barros em 14 de junho de 2016
15 min de leitura
JUNTE-SE A MILHARES DE OUTROS PROFISSIONAIS

Entre para a minha lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

cosmeticos-hidratantes

Conheça uma das técnicas que eu uso para criar cosméticos hidratantes que se destacam entre os clientes e são sucesso de vendas

A água é a molécula mais importante da nossa pele. Essa molécula composta por um átomo de oxigênio e dois de hidrogênio (H2O) é uma componente chave para o adequado funcionamento e manutenção da fisiologia cutânea.

As propriedades da pele, como regulação da temperatura corporal, controle hemodinâmico, excreção de metabólitos, proteção contra a radiação ultravioleta, resposta imunológica e função de barreira, só são desempenhadas com excelência se o tecido tegumentar estiver em condições normais de funcionamento. [2] Assim, a hidratação cutânea contribui para a manutenção da homeostase de todo o organismo.

A hidratação cutânea é importante para manter o conteúdo de água na epiderme e manter a barreira epidérmica em perfeito estado. Essa barreira deve ser bem estruturada para se evitar a perda de água (perda de água transepidermal) e a entrada de microorgarnismos patogênicos e agentes inflamatórios. Uma barreira epidérmica intacta permite que haja um equilíbrio cutâneo de água, o que é essencial para o bom funcionamento e aparência normal da pele. [1]

Por isso, quando falamos em hidratar a pele, não devemos apenas pensar em repor a água perdida, mas também em estratégias que também contribuam para a manutenção da integridade do estrato córneo, que desempenha a função de barreira cutânea.

Continue lendo esse artigo para saber como criar cosméticos hidratantes que se destacam entre os clientes e são sucesso de vendas e também:

  • Como funciona a hidratação da pele e como usar isso ao seu favor.
  • O fator de hidratação natural e sua relação com a hidratação da pele.
  • Hidratação e absorção de ativos pela pele: como a hidratação aumenta a eficácia dos tratamentos dermocosméticos.
  • Como criar cosméticos hidratantes com uso de uma matéria-prima natural.

 

 

Como funciona a hidratação da pele e como usar isso ao seu favor

A capacidade cutânea de retenção hídrica é altamente dependente da sua camada mais superficial, a camada córnea, bem como de substâncias com poder higroscópico. [1] O estrato córneo é o responsável por impedir quase toda a perda de água a partir da pele, e por isso os mecanismos fisiológicos de manutenção da integridade da barreira cutânea ajudam a promover uma pele hidratada e saudável. [2]

A barreira epidérmica pode ser dividida em dois componentes: matriz proteica celular (composta por uma trama de queratinócitos entrelaçados, disposta em camadas, limitadas superficialmente pelos corneócitos) e matriz intercelular (composta por uma dupla camada lipídica,  [2,3] sendo que o equilíbrio entre esses compartimentos celular proteico e intercelular lipídico estabelece um estado de equilíbrio da água no estrato córneo. [2,4]

Os lipídios intercelulares (formados por ceramidas, colesterol e ácidos graxos livres) têm origem dos queratinócitos nucleados e estão dispostos na camada córnea. Eles são estruturas bipolares (hidrofílica e hidrofóbica) que controlam a permeabilidade e o movimento intercelular da água. Por isso esses lipídios são importantes para a hidratação da pele e manutenção da função barreira cutânea. [2,3]

Além dos lipídios intercelulares, o fator de hidratação natural (FHN) também é considerado um dos principais mecanismos envolvidos na hidratação cutânea.

 

 

O fator de hidratação natural e sua relação com a hidratação da pele

Não adianta apenas repor água na epiderme para promover uma hidratação do estrato córneo, pois essa água irá evaporar para o ambiente. Assim, é preciso fatores para a retenção dessa água na pele, impedindo a sua evaporação para o meio. O fator natural de hidratação desempenha essa função, e por isso é tão importante para a hidratação cutânea.

Podemos dizer que o fator de hidratação natural (FHN ou NMF) é o componente solúvel em água do estrato córneo. Análises de seu conteúdo indicaram a presença de aminoácidos, ácido lático, carboidratos e ácido pirrolidona carboxílico (PCA). [5]

Composição do FHN [5]:

– Aminoácidos – 40%
– Ácido pirrolidona carboxílico (PCA) – 12%
– Lactato – 12%
– Ureia – 7%
– Amônia, ácido úrico, glucosamina, creatinina – 1,5%
– Citrato – 0,5%
– Sódio, cálcio, fosfato, potássio, magnésio e cloreto – 18,5%
– Açúcares, ácidos orgânicos, peptídeos e outros componentes – 8,5%

O fator de hidratação natural (FHN ou NMF) é um conjunto de substâncias hidrofílicas e higroscópicas que interagem entre si, retém água e condicionam um aspecto normal para a pele.

Então, podemos dizer que os lipídios intercelulares e o fator de hidratação natural são fundamentais para a manutenção da hidratação da pele, e atuam em conjunto, visto que esses lipídios selam o FHN nos corneócitos, mantendo o conteúdo hídrico intercelular. [2]

 

 

Está gostando desse artigo? Cadastre-se abaixo!
Novos artigos são enviados em primeira mão por e-mail.

 

Hidratação e absorção de ativos pela pele: como a hidratação aumenta a eficácia dos tratamentos dermocosméticos

A hidratação cutânea é uma das modalidades terapêuticas mais empregadas pelos dermatologistas. [2] Manter a pele hidratada contribui para a saúde e homeostase cutânea, além de manter a barreira epidérmica em perfeito estado, reduzindo a perda de água transepidérmica. Uma pele hidratada previne diversos problemas dermatológicos, como descamação e prurido, e ainda reduz sinais do envelhecimento cutâneo, como linhas finas, rugas e flacidez.

Além disso, na área dermocosmética, a adição de ativos hidratantes aos produtos pode ajudar na eficácia de diferentes substâncias ativas. As alterações na hidratação modificam as propriedades mecânicas da pele, alterando não só sua aparência, mas também a permeabilidade cutânea. [10]

Muitos ativos cosméticos possuem regiões distintas de ação (regiões-alvo), que incluem a epiderme viável e a derme, o que interfere na profundidade de permeação esperada para cada substância. [9] Por isso, favorecer a permeação desses ativos melhora o resultado estético clínico.

Mas como a hidratação atua na melhora da permeabilidade de substâncias ativas? Bom, primeiro é preciso entender que a barreira de permeação da pele é o estrato córneo. Esta impermeabilidade da pele devido ao estrato córneo é devido à sua estrutura e lipofilicidade. [11]

Em 1975, Michaels et al. [7] propuseram um modelo esquemático para explicar o estrato córneo do ponto de vista da permeabilidade, chamado “brick & mortar”, em que os tijolos são os corneócitos e o cimento são os lipídios intercelulares. [8] As proteínas do estrato córneo constituem uma camada descontínua, enquanto que a fase lipídica é contínua, e essa estrutura obriga os ativos a se difundirem através das bicamadas lipídicas intercelulares, [11] o que dificulta a permeação dos ativos (principalmente os hidrossolúveis) e faz do estrato córneo a principal barreira para a penetração de substâncias ativas para as camadas viáveis da pele.

 

Fonte/Figura: Michaels AS et al.
Fonte/Figura: Michaels AS et al.

 

Para um ativo passar pelo estrato córneo, ele possui duas opções de “caminho”: a via transcelular (através dos corneócitos e da matriz lipídica intercelular) e a via intercelular (através da matriz lipídica entre os corneócitos), [11] o que já não é nada fácil para um ativo lipossolúvel (que possui afinidade pelo conteúdo lipídico intercelular), e é ainda mais complicado para uma substância hidrossolúvel (que não possui afinidade pelos lipídios intercelulares do estrato córneo).

É fácil entender que para ativos hidrossolúveis, quanto mais água em um sistema, melhor a sua solubilização. Podemos usar esse mesmo raciocínio para entender os benefícios de uma maior hidratação da pele para a permeação desses ativos. Estudos mostram que a quantidade de água na camada córnea pode influenciar a função barreira da pele: maior hidratação aumenta a absorção percutânea. [8]

Porém, não são apenas os ativos hidrossolúveis que ganham com a hidratação da pele. Em geral, a hidratação cutânea aumenta a permeação de substâncias hidrofílicas e lipofílicas. O mecanismo exato ainda não está totalmente esclarecido, mas sabe-se que o aumento do conteúdo aquoso do estrato córneo pode aumentar a solubilidade do permeante facilitando sua penetração. Outro efeito importante é a capacidade da água de intumescer o estrato córneo diminuindo a adesão entre os queratinócitos, [13] facilitando a passagem de substâncias ativas de interesse dermocosmético.

 

 

Como criar cosméticos hidratantes com uso de uma matéria-prima natural

Como vimos aqui, pode-se prevenir, e até mesmo tratar, diversos problemas dermatológicos causados pela desidratação com o uso de cosméticos hidratantes, além de favorecer a absorção de outros ativos dermocosméticos por hidratação do estrato córneo. Há uma grande variedade de ativos disponíveis no mercado, com diferentes mecanismos de ação. No estrato córneo, há a presença de algumas substâncias umectantes, altamente higroscópicas, que fazem parte do fator de hidratação   natural e também podem ser adicionadas nesses produtos. [1]

Um dos componentes mais importantes do fator de hidratação natural (FHN ou NMF) para a hidratação da pele é o ácido pirrolidona carboxílico (PCA). Essa substância é encontrada em concentração relativamente elevada no estrato córneo saudável (cerca de 12%), sendo que seus sais são extremamente higroscópicos. [5,6]

No pH do estrato córneo (aproximadamente pH 5) o ácido pirrolidona carboxílico existe quase que exclusivamente na forma de sal (como a forma sódica, Na PCA). Esse componente é um dos agentes mais importantes hidratantes naturais para a pele, e está comercialmente disponível para uso em cosméticos. O Na PCA é um componente seguro para uso em cosméticos, não é tóxico, não é genotóxico, não é irritante e não é sensibilizante para a pele. [6]

O Ajidew® NL-50 (INCI Name: Sodium Pyrrolidone Carboxylate) é a forma sódica do ácido pirrolidona carboxílico, sendo um umectante natural derivado do ácido glutâmico disponível comercialmente no Brasil. Como já citei, esse sal está presente em grande quantidade na pele humana e é um dos componentes do FHN, atuando como um excelente hidratante para a pele.

O Ajidew® NL-50 é bastante seguro para a pele e o meio ambiente. Por apresentar excelentes efeitos hidratantes, ele é bastante recomendado como um hidratante e umectante em cosméticos. Pode ser usado em cremes, loções, shampoos, condicionadores e géis de banho, além de produtos para cuidados com o sol e maquiagem. A concentração usualmente indicada é de 1,0 à 5,0%, mas pode ser usado em concentrações maiores.

Outra vantagem do Ajidew® NL-50 é que ele é líquido (solução 50% em água), o que torna a manipulação desse ativo simples e fácil: ele pode ser incorporado à frio nas formulações. Seu pH de estabilidade é de 4,0 a 6,5. Mas fique atento: é preciso utilizar bases que não são afetadas pela presença de eletrólitos, para garantir a estabilidade da sua formulação final.

 

Manter a pele hidratada é fundamental para o seu funcionamento correto. Portanto, entender como ocorre o processo de hidratação, bem como saber como melhorar essa característica com o uso de ativos cosméticos em produtos pode proporcionar vantagem competitiva ao profissional.

O objetivo desse artigo é contribuir para a elevação do nível técnico de profissionais da área. Para qualquer orientação procure sempre um profissional habilitado como um dermatologista ou farmacêutico.

Quer ter independência para criar formulações cosméticas do zero e nunca mais reproduzir fórmulas prontas?

A Escola Vinia possui programas presenciais e online com o método mais completo para aprender a criar formulações dos produtos cosméticos mais procurados pelos consumidores, com abordagens diretas e focadas nos pontos essenciais para se fazer um ótimo trabalho como formulador e se destacar na criação de fórmulas cosméticas.

São cursos comigo que te ensinam:

  • Principais ingredientes cosméticos na criação de produtos.
  • Como formular cremes, loções, manteigas corporais e séruns.
  • Como formular shampoos e sabonetes líquidos.
  • Como formular condicionadores, cremes para pentear e máscaras hidratantes.
  • Como formular fotoprotetores estabilizados e eficazes.
  • Como formular cosméticos para pele delicada (pele sensível, idosos, gestantes e crianças).

Referências:

[1] Silva VRL. [Desenvolvimento de formulações cosméticas hidratantes e avaliação da eficácia por métodos biofísicos.] Tese doutorado – FCF – USP. 2009.[2] Costa A. [Hidratação cutânea]. Revista Brasileira de Medicina. V. 66, p. 15-21, abr. 2009.[3] Draelos, ZD. Cosmecêuticos. Elsevier: Rio de Janeiro 2005. 264 p.[4] Wu MS, Yee DJ, Sullivan ME. Effect of a skin moisturizer on the water distribution in human stratum corneum. J Investig Dermatol 198381:446-8.[5] Bhise S. [Sodium Pyrrolidone Carboxylic Acid As Moisturizing Agent.] International Journal of ChemTech Research, vol.5, no.4, pp 1448-1451, 2013. Disponível em: http://www.sphinxsai.com/2013/VOL5_NO.4_APRIL/PDFS_VOL5_NO.4/CT=06(1448-1451)AJ13.pdf[6] Cosmetic Ingredient Review Expert Panel. [Safety Assessment of PCA (2-Pyrrolidone-5-Carboxylic Acid) and Its Salts as Used in Cosmetics.] 2014. Disponível em: http://www.cir-safety.org/sites/default/files/PCA092014TAR%20-%20for%20posting.pdf[7] Michaels AS, Chandrasekaran SK, Shaw JE. Drug permeation through human skin: theory and in vitro experimental measurement. Am Inst Chem Eng J. 1975;21:985-96.[8] Addor FAS, Aoki V. [Barreira cutânea na dermatite atópica.] An Bras Dermatol. 2010;85(2):184-94.[9] Maia Campos PMBG, Mercúrio DG. [Farmacologia e a pele]. Revista Brasileira de Medicina. V. 66, p. 15-21, dez. 2009.[10] Draelos Z, Aquaporins – An Introduction to a Key Factor in the Mechanism of Skin Hydration. J Clin Aesthet Dermatol. 2012 July; 5(7): 53–56.[11] Martins MRFM, Veiga F. [Promotores de permeação para a liberação transdérmica de fármacos:uma nova aplicação para as ciclodextrinas.] Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. vol. 38, n. 1, jan./mar., 2002.[12] Wiliiams AC, Barry BH. Penetration enhancers. Advanced Drug Delivery Reviews 2004 56:603-18.

Olá,

o que você achou deste conteúdo? Conte nos comentários.

O seu endereço de e-mail não será publicado.