desenvolvimento cosmético

pH de cosméticos: você dá importância a esse fator?

Cleber Barros
Escrito por Cleber Barros em 23 de maio de 2019
10 min de leitura
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Entenda por que é de extrema importância se atentar ao pH de cosméticos na hora de formular um produto de sucesso

No artigo de hoje vou abordar um assunto que, apesar de parecer básico a princípio, gera dúvidas até mesmo nos formuladores mais experientes: qual a real necessidade de medir e ajustar o pH de cosméticos?

Antes de explicar por que exatamente é necessário ajustar o pH de cosméticos, é importante definir o que é o pH.

pH significa potencial hidrogeniônico. Isso significa que o pH é relativo à quantidade de íons H+ e OH- liberados por uma determinada substância quando a mesma é dispersa em água. Se a quantidade de íons H+ for maior do que a quantidade de íons OH-, dizemos que a substância é ácida. Por outro lado, se a quantidade de íons OH- for maior do que a quantidade de íons H+, dizemos que a substância é básica (ou alcalina).[1]

A escala de pH varia de 0 a 14. É definido que substâncias que apresentam pH 7,0 são consideradas neutras, enquanto que as que possuem pH inferior a esse são consideradas ácidas; e as com pH superior a 7,0 são consideradas básicas.[1]

Uma vez que a medição do pH é relativa à quantidade de íons liberados por uma determinada substância quando em meio aquoso, é importante saber que a medição de pH não é aplicável para sistemas insolúveis em água, como balms e bastões anidros, por exemplo.[2]

Conhecer o pH ideal para a região onde o seu produto cosmético deve ser aplicado é fundamental, uma vez que o uso de produtos que possuam faixas de pH muito diferentes das apresentadas pela pele e cabelos podem acarretar diferentes danos para estas estruturas, desde o aumento do frizz nas fibras até o ressecamento da pele..

Apesar de antigamente acreditar-se que o pH da pele era por volta de 5,0 e 6,0, um estudo recente demonstrou que, na verdade, o pH ideal da pele humana é 4,7. Este estudo demonstrou também que uma pele com valores de pH abaixo de 5,0 apresentam melhores condições do que peles que se encontram com pH acima de 5,0. Isso foi comprovado por diversas análises biofísicas, como medição da hidratação e função de barreira da pele, por exemplo.[3]

 

 

Além disso, atualmente muito se fala sobre o microbioma e seus benefícios em relação à pele humana. Este estudo demonstrou que cosméticos que possuem um pH por volta de 4,7 fazem com que as bactérias residentes da pele se liguem mais fortemente à pele, enquanto que pHs alcalinos (cerca de 8,0 a 9,0) promovem uma dispersão das mesmas.[3]

Já em relação aos cabelos, estudos demonstraram que o ponto isoelétrico do cabelo é por volta do pH 3.67, enquanto que seu ponto isoiônico é em torno de 5.6 (o pH no qual uma proteína ou partícula tem um número equivalente de cargas positivas e negativas é chamado de ponto isoiônico, enquanto que o ponto no qual uma proteína ou partícula não migra em um campo elétrico é chamado de ponto isoelétrico).  O cabelo atinge neutralidade de cargas quando o pH está próximo ao ponto isoelétrico. Em cabelos clareados, o ponto isoelétrico é atingido em pHs ainda mais ácidos. Isso quer dizer que qualquer produto capilar com pH superior a 3,67 causa um desbalanço nas fibras capilares, que adquirem cargas negativas. Sabendo que cargas iguais se repelem entre si, é de se entender que a aquisição das cargas negativas nestas fibras é o fator que causa a condição que conhecemos como frizz.[4]

Apesar de saber-se que os pH de cosméticos capilares, quando superior a 3,67, é prejudicial aos fios, geralmente os shampoos são formulados com pH por volta de 5,0. Isso acontece porque a pele, quando submetida a pHs tão baixos quanto 3,67, pode ser prejudicada, sofrendo com irritações e até lesões. Além disso, é frequente o fato de, acidentalmente, o shampoo atingir os olhos. Em uma situação como essa, caso o pH desses produtos esteja muito baixo, poderia ser frequente a ocorrência de lesões mais sérias nos olhos dos consumidores, uma vez que os olhos dos seres humanos apresentam pH fisiológico, ou seja, próximo de 7,0. É por isso também que os shampoos infantis são formulados com pH 7,0: para evitar a ocorrência de ardência nos olhos.

Entretanto, cosméticos para o tratamento dos cabelos, como condicionadores e máscaras, por exemplo, podem ter pHs mais baixos (por volta de 4,0), uma vez que por serem mais densos, é menos frequente o contato acidental com os olhos; além de não necessitarem de contato direto com o couro cabeludo para sua aplicação, evitando assim que o produto danifique a pele.[4]

Existem duas formas principais de se medir o pH de cosméticos. Uma destas formas é utilizar as fitas universais de pH. Estas fitas são tiras de filtro de papel impregnadas com indicadores, ou seja, substâncias que apresentam determinada coloração quando apresentadas a cada variação de pH, e portanto podem indicar a qual número na escala de pH se refere uma substância. A escala colorimétrica apresentada por cada fita de pH geralmente é indicada na própria embalagem. Logo, para verificar o pH de cosméticos, basta imergir a fita no produto por cerca de 3 a 5 segundos, retirar a tira da solução, removendo o excesso de produto, e comparar as colorações obtidas na fita com as colorações apresentadas na escala do próprio produto.[2]

 

Outra forma bastante utilizada para se medir o pH de cosméticos é utilizando um pHmetro de bancada. Este equipamento possui um eletrodo que é conectado a um potenciômetro, que produz milivolts que são convertidos em unidades de potencial hidrogeniônico. A calibragem do equipamento é fundamental para obter um resultado preciso. Se o aparelho for estável e utilizado com frequência, não é necessário calibrá-lo diariamente. Do contrário, para manter sua qualidade, é preciso sempre calibrar antes da utilização para não correr o risco de ocorrer erros em seu uso.[5]

 

Agora que você já sabe como verificar a faixa de pH no qual os seus produtos se encontram, é hora de aprender como regular o pH de cosméticos.

Caso você verifique que é necessário reduzir o pH, ou seja, acidificar o seu produto, você pode realizar este ajuste utilizando ácidos orgânicos fracos, como o ácido láctico, ascórbico ou cítrico.[6]
Por outro lado, caso seja necessário aumentar o pH da formulação, ou seja, alcalinizar o seu cosmético, geralmente são utilizadas soluções de hidróxido de sódio, alumínio,[6] ou Aminometil Propanol.

Escolhido qual o agente corretor de pH a ser utilizado, seja ele um acidulante ou um alcalinizante, você deve adicionar aos poucos o agente escolhido na sua formulação, homogeneizando bem e verificando o novo pH obtido após cada adição.

Ácidos e bases inorgânicas fortes normalmente são evitados devido à dificuldade de controle industrial do pH e à possibilidade de formação de resíduos indesejados.[6]

Espero que, com este texto eu tenha te convencido que o pH é um fator crucial, que deve sempre ser analisado para garantir o sucesso das formulações cosméticas.

 

 

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Referências:

[1] KASVI [Como usar a Tira Universal para medir o pH?] 12 de agosto de 2016. Disponível em: <https://kasvi.com.br/como-usar-tira-universal-ph/>. Acesso em 19 de novembro de 2018.
[2] Wiechers, J. W. [Formulating at pH 4-5: How Lower pH Benefits the Skin and Formulations] Cosmetics and Toiletries. 3 de julho de 2013. Disponível em: <https://www.cosmeticsandtoiletries.com/research/chemistry/premium-formulating-at-ph-4-5-how-lower-ph-benefits-the-skin-and-formulations-213983581.html>. Acesso em 19 de novembro de 2018.
[3] Lambers H., Piessens S., Bloem A., Pronk H., Finkel P. [Natural skin surface pH is on average below 5, which is beneficial for its resident flora.] Int J Cosmet Sci. 2006 Oct;28(5):359-70.
[4] Gavazzoni Dias MF, de Almeida AM, Cecato PM, Adriano AR, Pichler J. [The Shampoo pH can Affect the Hair: Myth or Reality?] Int J Trichology. 2014 Jul;6(3):95-9. doi: 10.4103/0974-7753.139078.
[5] Prolab [Phmetro de bancada: entenda sua função e como usar o equipamento corretamente] 21 de fevereiro de 2018. Disponível em: <http://www.prolab.com.br/blog/equipamentos-aplicacoes/phmetro-de-bancada-entenda-sua-funcao-e-como-usar-o-equipamento-corretamente/>. Acesso em 19 de novembro de 2018.
[6] Csordas, Y., Galembeck, F. [Cosméticos: A Química da Beleza].

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